Estrada Real - Caminho dos Diamantes
De Diamantina (MG) a Ouro Preto (MG)371km em 6 dias
Diamantina
Saí de Leme, SP no dia 2/6/2017 e cheguei em Diamantina na manhã do dia 3. Montei minha bike na Rodoviária modesta da ciadade e fui a um hotel previamente reservado. Almocei e fui até a agência de turismo credenciada para pegar meu Passaporte da Estrada Real. Diamantina é uma linda cidade histórica, terra de Jucelino Kubitschek e Chica da Silva, cheia de jovens universitários que caminham pelas ruas de pedras com casario antigo e igrejas centenárias. Um contraste que dá uma vibe muito boa ao lugar.
Dia 1 - 4 de junho de 2017
De Diamantina a Serro. 65km com 1580 de elevação e 11,3km de média. Dizer que vc sobe o tempo todo em Minas é redundante. A decepção foi o alfalto/calçamento que foi de 42km que tira um pouco do charme da Estrada Real. Foi cansativo mas bem bacana com paisagens lindas.
Cidade de Serro com seu casario do século XIX foi a primeira cidade cujo patrimônio histórico e arquitetônico foi tombado pelo IPHAN em 1938. Sim, eu subi os exatos 50 degraus largos até lá em cima na capela de Santa Rita kkk. Mas hoje domingo parece uma cidade fantasma: quase ninguém na rua.
Dia 2 - 5 de junho de 2017
De Serro a Conceição do Mato Dentro. 76km com 1.971 de elevação e 11,7km de média. Dia de perrengue! Começou muito bem com um asfalto de Serro até Alvorada de Minas. Depois seguiu-se uma estrada de terra normal com os sobe-e-desces de costume. No km 27 eu deveria pegar uma estrada na direção inversa a que peguei! Mas acabei chegando de igual forma ao povoado de Itapanhoacanga, no pé da Serra de São José, a mais bonita e a mais dura do Caminho. Ali é bem isolado e o viajante deve estar munido de água e alimento se precisar. Há trecho que precisei empurrar pois o calor era grande e a subida era bem dura. A paisagem era linda e, na descida do outro lado, cheguei a Santo Antonio do Norte (conhecida como Tapera). Ali almocei perto das 13h numa bar onde a mãe do dono me serviu uma comida bem simples mas que repos minhas energias. Depois de descansar um pouco segui rumo a Córregos, onde talvez iria parar neste dia. Chegando lá, resolvi seguir até Conceição do Mato Dentro, pois o relevo seria tranquilo e teria tempo para chegar e completar o dia longo previsto para a viagem (90km).
Com aproximadamente 73km, cheguei no asfalto que me levaria a Conceição. Porém a roda traseira estava dura e finalmente travou. Desmontei o freio, mas não encontrei nenhum problema. Não conseguia nem mesmo empurrar a bike. Então resolvi pedir carona. Com 10 minutos uma saveiro parou e me levou à cidade. Consegui carona com o Alisson que me levou ao Vanderlei que trocou o cubo da bike, pois o freehub havia estragado. Por aqueles lados, os mecânicos de bicicleta trabalham em casa. Antes passamos numa bicicletaria que nos indicou o Vanderlei que fez o diagnóstico do problema, ligou na bicicletaria e pediu a peça nova. Nesta altura já eram umas 17h e, na mesma rua, hávia uma pousadinha de uma senhorinha e foi ali mesmo que me hospedei. Tomei um banho descansei e, lá pelas 19h30 fui buscar a bike, prontinha para continuar a aventura! Foi um susto! Por um momento pensei que teria que pegar um ônibus e voltar para casa. Mas eu tudo certo!
Dia 3 - 6 de junho de 2017
De Conceição do Mato Dentro a Itambé (tb!) do Mato Dentro - 65km e 1865 metros de elevação.
Dizem que é o pior trecho do CD. Realmente foi duro! Mas tudo pedalável. Tempo todo subindo com descidas rápidas. Praticamente não se anda um km em reta. De de Morro do Pilar em diante são praticamente 15km subindo sempre. Quando vc pensa que é o último morro la no topo vc vê a baixada e logo mais uma subida! É um trecho bem isolado e por isso levei um lanche que comi sentado na beira da estrada numa sombra gostosa. Chegando em Itambé, passei pela gruta do Dominguinhos da Pedra que por 42 anos morou ali, numa caverna. A opção por ser um eremita foi uma decepção amorosa: ele se apaixonou pela filha do dono da fazenda em que trabalhava e, quando ela se casou, decepcionado, Dominguinhos resolveu isolar-se a 10km de Itambé, no meio das pedras. Ele morreu aos 74 anos em janeiro de 2015 e em 2016, a Prefeitura homenageou a figura lendária com uma estátua dele segurando o violão que tinha apenas duas cordas.
Dia 4 - 7 de junho de 2017
De Itambé do Mato Dentro a Bom Jesus do Amparo. Dia de "descanso" com apenas 45km e 725 metros de elevação. De Itambé a Bom Jesus do Amparo passando por Senhora do Carmo e Ipoema, apenas 15km de terra o resto em asfalto. Mas aqui sempre se está descendo forte ou subindo forte ou descendo leve e subindo leve. Retas não existem. Destaque de hoje para o bem arrumadinho Museu do Tropeiro em Ipoema.
Enquanto descansava em Bom Jesus à tarde, sentado na pracinha em frente ao hotel, bem no centro da cidadezinha, eis que vejo um outro cicloviajante passando. Mas parecia estar vindo de longe. Um tanto sujo, bike supercarregada, cabelos longos e barba, chapéu e sandalias nos pés. Deu a volta na praça e parou ali perto, num supermercado.
Minha curiosidade me fez ir "assuntar". Me parecia argentino por isso cheguei mandando um portunhol. Ele até respondeu mas vi que tinha dificuldades e ai nos acertamos no inglês, embora o meu fosse bem "macarrônico". Convidei-o a ficar no hotel e lhe paguei a hospedagem naquela noite. Nascia ali uma amizade com um grande aventureiro: Gautier Le Roux, um francês que está dando a volta ao mundo. Durante a tarde e a noite ele me contou sua história que você pode conhecer em parte AQUI.
Dia 5 - 8 de junho de 2017
De Bom Jesus do Amparo a Catas Altas passando por Cocais, Barão de Cocais e Sta Bárbara. Foram 76km com 1851 de elevação. Pedal médio nem pesado e nem leve. Destaque para a serra entre Cocais e Barão: 8km subindo parte em trilha onde só passa animais e bikes e muito eucalipto. Outro ponto alto foi o bicame de pedra, construção feita pelos escravos em 1792 sem uso de qualquer tipo de argamassa, todo encaixado. Pedalei hoje com meu novo amigo Gautier Le Roux um clicoviajante francês que já rodou 22 mil km com sua bike pela Europa, África, cruzando o Atlântico de carona num veleiro, Bahia e agora Minas. No início pensei que ele iria me atrasar, por conta do peso que carregava em sua bike. Mas qual não foi minha surpresa ao ver Gautier subindo na minha frente e me deixando na poeira! Um escalador nato! Um mês depois, ele passou uma semana descansando em minha casa em Leme, SP, de onde partiu para o Paraguai, cruzando pelo estado de São Paulo e Paraná. A noite na cidade de Catas Altas, comi uma pizza deliciosa, numa pizzaria atrás da igreja matriz, fica a dica!
Veja a trilha no Strava »Dia 6 - 9 de junho de 2017
Catas Altas a Ouro Preto. Hoje apenas 32km de pedal sendo 12km subindo sem parar (de Mariana a Ouro Preto). De St Rita Durão a Mariana fiz de ônibus pois o trecho da Estrada Real está interditado em razão do acidente da Samarco. O projeto inicial era ir de trem (Trem da Vale) de Mariana a Ouro Preto que inclusive tem um vagão exclusivo para bikes. Porém, extamente este vagão estava em manutenção... Enquanto ainda ruminava a decepção parado na estação do trem, eis que alguém me chama. Qual não foi minha surpresa quando vio o Gautier ali parado com sua bike! Almoçamos e seguimos o trecho final. Gautier é um escalador nato e mesmo com uma bike carregada com 45kg pedala como se não fosse nada (he makes "magics" haha!). Chegamos a Ouro Preto e depois de pegar o certificado de conclusão do Caminho dos Diamantes tomamos aquela cerveja e nos despedimos. Segui para a rodoviária onde desmontei a bike, tomei um banho e embarquei rumo a SP no início da noite. Muito feliz por ter feito mais essa cicloviagem! Pedalar é viver!
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