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Dia 1 - 27 de maio de 2022

De Ouro Preto a Ouro Branco
58,9km com 1.748m de elevação

Cheguei a Ouro Preto de ônibus no horário previsto. Desta vez não levei a bike na mala-bike para evitar os transtornos de despachá-la para o destino final como fiz nas vezes anteriores da Estrada Real. Então tudo foi mais fácil. Apenas tive que colocar a roda dianteira e as bolsas de selim e guidon, trocar de roupa e partir. Passei no centro, mas o ponto de carimbo não estava aberto e segui, pois desta vez decidi não dar muita importância aos carimbos.

Tomei um café numa padaria e comecei a subida até a portaria do Parque Estadual do Itacolobi às 9h30 para aquele seria o pior dia da viagem. Chegando lá, me dirigi à sede e fui surpreendido com uma taxa de R$20,00 e recebi uma pulseira de identificação e orientações da agente. Dica: se você não pagar essa taxa nada acontecerá. Sugiro que passe direto na portaria e siga estrada.


Dentro do Parque passei por alguns museus e depois disso começam as trilhas técnicas. Logo no começo um buraco me obrigou a carregar a bike para dentro dele e colocá-la para fora do outro lado. Tinha uns 3 metros de extensão por 1,5 metro de profundidade. Foi dureza mas consegui. Depois veio um riozinho com pinguela e um longo sobe e desce no meio da floresta com muitos paus soltos até chegar á represa. De lá, outra trilha mas no descampado com pedras e vegetação de serrado ou caatinga. Muitos trechos impedáveis tanto pela inclinação como pelo solo pedregoso.

A terceira parte da trilha foi pior; a trilha é para trekking, impossível pedalar na maior parte dela e toda feita em subida para chegar à primeira cidade: Lavras Novas. Foi dureza. Almocei em Lavras Novas e nem imaginava o que me esperava na sequência...

De Lavras Novas e ao povoado de Chapada a piór trilha de todas. Extremamente técnica, logo no inicio passando dentro de um riozinho e seguindo num single track e depois em rock gardens periogosos e técnicos. Do meio pra frente a tilha entra num pasto com pedras e mato. Em muitos trechos ela desaparece... no final ela simplesmente inexiste! O GPS apontava uma direção, um marco perdido no meio do nada não ajudava e o pouco de trilha que existia ia em outra direção da do GPS. Decidi seguir o GPS mesmo no meio do mato. No final, uma cerca de arame farpado que deu para vencer passando por baixo graças à uma erosão e logo na sequência uma porteira com cadeado. Finalmente cheguei a Chapada e decidi que para mim a cota de trilhas do dia já havia se esgotado, sem falar no relógio que avançava rápdido. Por isso, até Ouro Branco abortei o trajeto oficial (que ainda tinha duas incursões para dentro Parque da Serra de Ouro Branco) e segui pelo asfalto (MG 129) cheio de longas subidas. Por volta de 17h cheguei em Ouro Branco.

Hospedagem: Pousada Estrada Real (031-37412027) - simples mas funcional e barata, recomendo.


Dia 2 – 28 de maio de 2022

De Ouro Branco a Ressaquinha
97,6km com 1.822m de elevação

O segundo dia começou cedo: 6h40 já estava saindo da cidade pela periferia. Mais adiante já na zona rural uma subida duríssima e depois já logo seguida de uma deliciosa descida que me colocou na MG 129 por 6 km. Em seguida, uma estradinha rural que passa por um vilarejo até chegar a Conselheiro Lafaiete, cidade grande e, como de costume em Minas Gerais, com uma grande e inclinada subida para vencer. Feito o carimbo do passaporte num hotel meio fora de mão no centro, segui guiado pelo Google Maps para um ponto de referência na cidade onde passa a Estrada Real. O centro é muito perigoso e pouco amigável para bikes. Tomei uma fina de uma moto na saída de um grande viaduto que me deu arrepios e um grande susto. Vencido o centro, tudo fica mais fácil na periferia e finalmente de volta às estradas rurais. Passei por um trecho com algumas subidas mas muito bonito, entre eucaliptos e fazendas. Depois mais 6km em asfalto sem acostamento até Queluzito, mas com trânsito tranquilo e motoristas respeitadores à bike.


De Queluzito à Pedra do Sino, bairro de Carandaí, cerca de 25km, não há apoio nenhum. Existem algumas propriedades rurais mas todas fechadas e com aspecto de abandonadas em alguns casos. Então a recomendação é abastecer-se bem de água e algum alimento, já que o trecho tem subidas duras a vencer e, portanto, vai reduzir a velocidade e aumentar o tempo para vencer o trecho. Cheguei em Pedra do Sino praticamente sem água e morrendo de fome, já na hora do almoço. Almocei num boteco/trailer beeeemm simples na beira da estrada chamado “Arca de Noé”. Comida boa, barata e com um atendimento cheio de simpatia, nota 1000, do casal proprietário.
Segui passando por Carandaí, que para variar tem uma subida monstra dentro da cidade! Outra estrada rural muito agradável com algumas subidas sem grandes dificuldades. No trecho final, o trajeto oficial manda fazer uma volta de 12km até a localidade de Ressaca. O final desta volta dá a mais ou menos 500m à frente do caminho que vem de Carandaí. Decidi abortar esta volta, pois já estava cansado, com mais de 90km pedalados naquele dia. Para chegar em Ressaquinha o roteiro oficial também propõe uma volta entrando pelo outro lado da BR 040 para a qual também não vi sentido. Queria chegar e descansar!

Hospedagem: Pousada Real - (32) 3341-1452. Simples, mas excelente. Hotelzinho na beira da BR040 já na saída da cidade. O quarto muito confortável, limpo e cheio de detalhes. Recomendadíssimo!

Dia 3 – 29 de maio de 2022

De Ressaquinha a Santos Dumont
96,7km com 1.460m de elevação

Esse foi um dos dias mais legais do Caminho Novo, em razão dos atrativos ao longo da trilha. De Ressaquinha à grande Barbacena, uma agradável estrada rural, passando pela cidadezinha de Alfredo Vasconcelos. Vencido o centro da cidade, segue-se por asfalto até um distrito de onde se vai por estrada rural até a simpática Antonio Carlos, onde me abasteci com um bom lanche que me serviria de almoço, já que o trecho seguinte, até Santos Dumont, praticamente não há apoio; apenas pequenos bairros rurais sem estrutura comercial.
Este trecho bem isolado foi um dos mais bonitos da Estrada Real. Muitas propriedades rurais antigas e a descida incrível pelo trecho original da Estrada União Indústria, ligando a cidade de Petrópolis a Juiz de Fora e mais tarde estendia além desta região. Um chafariz da época do Império ainda está lá, bem no meio da descida, cuja água me abasteceu nos quilômetros seguintes. Esta foi a primeira estrada macadamizada (pavimento de pedras) da América Latina, inaugurada em 23 de junho de 1861 por Dom Pedro II.


No final do trecho rural, chega-se ao museu da casa de Santos Dumont que estava fechado quando passei por lá. Segue-se por uma bela estrada asfaltada até novamente retomar uma estrada rural que sai na BR040 chegando pela periferia de Santos Dumont.

Hospedagem: Hotel Itaipu. Horrivel! Não recomendo! Hotel no centro da cidade mas cheio de problemas. Tive que mudar 4 vezes de quarto por problemas no chuveiro e TV e mesmo assim tomar banho em um outro quarto, porque o meu não tinha água. Tudo meio velho ou mal reformado e com mal funcionamento. Diga-se: o hotel mais caro da viagem R$115,00 a diária!

Dia 4 – 30 de maio de 2022

De Santos Dumont a Juíz de Fora
83,9km com 972m de elevação

Esse foi o dia mais difícil e cheio de perrengues da viagem!
Desde o dia anterior vinha sentindo um pequeno incomodo urinário que se intensificou e me assustou quando urinei bem escuro logo no início deste dia. Pensei que fosse alguma água que eu havia tomado mas na verdade foi uma irritação na bexiga por conta da posição que estava pedalando sobre o celim. Era incômodo mas suportável e aliviava de tempos em tempos. Eu tinha antibiótico comigo e já comecei a tomar.
Logo na saída de Santos Dumont o marco apontava para uma “trilha” no meio do mato. Obedecendo ao marco e ao GPS segui por um caminho de boi e logo no inicio uma bela poça de lama que molhou meus pés até a canela. Na sequência, paus e mato acabaram enroscando no câmbio traseiro (como no primeiro dia) me obrigando a realinhar na força para reparar a passagem de marchas. Mais à frente, a trilha melhorou entrando num pasto limpo e com uma estradinha.


O GPS então me mandava entrar em outra trilha praticamente invisível no meio do mato. Olhando o mapa, notei que poderia contorná-la por uma estrada rural logo à frente e sair no final daquela trilha e foi o que fiz, já traumatizado com tantas trilhas ruins do primeiro dia e deste início de dia. Seguindo, pela estrada rural, o GPS e o marco apontavam para dentro de uma propriedade particular com porteira. Segui abrindo duas porteiras e passando ao lado de uma grande casa fechada e com 3 cachorros bonzinhos. Porém, não via a trilha... com muito custo descobri que a trilha seguia dentro de um mato ao lado da casa. Me embrenhei ali e passados alguns metros já estava num pasto e mais uma porteira. Segui agora por uma trilha mais marcada no meio de uma floresta mas visivelmente pouco usada.
Com uns 500 metros nesta trilha, notei que havia perdido meu ciclocomputador. Voltei tudo até a primeira porteira na tentativa de achá-lo mas sem sucesso. Bem triste e decepcionado comigo mesmo pela falta de cuidado, segui.
Mais um barreiro e uma subida dura e cheguei novamente à estrada rural que me levou à BR040 outra vez, já chegando em Ewbank Câmara onde comprei um remédio para infecção urinária que continuava incomodando.
Seguindo por mais alguns quilômetros, cheguei a outro vilarejo onde o marco apontava para seguir à direita. Porém do outro lado da linha férrea, havia outro marco apontando na outra direção, a mesma que meu GPS indicava. Segui e logo cheguei a uma outra propriedade particular com duas porteiras e nova trilha no meio do pasto. Mais à frente, num estábulo, encontrei um homem e com um carro. Ele prestava serviços com uma retroescavadeira na propriedade e confirmou que à frente havia uma trilha que, segundo o proprietário, dava em Paula Lima, cidade seguinte prevista no trajeto. A trilha foi ficando cada vez mais apagada até chegar num pasto e depois num mato e lá, no meio de bois e ao lado de um cerca de arame farpado estava perdido um marco da ER. Impossível seguir. Olhei no mapa e não havia outra opção senão voltar até o povoado. Foram mais 3km de volta e lá, consultei o site da ER e descobri que aquela trilha havia sido desativada e Paula Lima tirada do roteiro. Ou seja, o marco do lado direito estava certo e eu utilizando um GPX desatualizado (deste dia em diante sempre consultava o site antes de sair).
Na sequência veio o povoado de Chapéu D’Uvas e um bairro de Dias Tavares e finalmente a cidade de Dias Tavares que vive em função de uma unidade da Arcelor Mital. Ali, depois de todos esses perrengues, suado, sujo e bem incomodado com minha infecção urinária, fui surpreendido por um excelente restaurante com muitos funcionários de empresa bem vestidos e garçons de gravata borboleta! Uma recompensa generosa depois de uma manhã de perrengues e incômodo urinário.
Já próximo a Juíz de Fora, segui agora por asfalto e logo cheguei à periferia da cidade, depois de alguns quilômetros na BR040. Depois de mais um trecho de estrada de chão cheguei à represa que abastece a cidade e depois por asfalto passei por uma área militar e enfim na grande e agitada Juíz de Fora. Lá, no final da tarde e inicio da noite fiz uma via sacra em todas as farmácias tentando comprar o antibiótico apropriado para a infecção urinária (Macrodantina) mas, para meu desespero, não consegui pois não tinha receita. Até cogitei ir ao hospital, mas desisti pois havia melhorado um pouco. O dia foi tão pesado e cheio de perrengues que quase não fiz fotos!

Hospedagem: Joalpa Hotel: (32) 3215-6055. Excelente e barato, o melhor da viagem. Aproveitei e mandei lavar quase todas as roupas ali.

Dia 5 – 31 de maio de 2022

De Juíz de Fora a Paraíba do Sul
79km com 988m de elevação.

Dia mais tranquilo e fácil da viagem, praticamente todo no asfalto. Prá variar, uma subida de doer na saída de Juíz de Fora. Na sequência, uma estrada asfaltada tranquila passando por Matias Barbosa, praticamente sem subidas.
Antes de chegar à simpática Simão Pereira, mais uma subida monumental e longa. Em ambas as cidades, tentei falar com um médico em postos de saúde, mas não tinha tempo para esperar duas ou três horas para ser atendido... Eu já sabia o que deveria tomar. Só precisava da receita para comprar o antibiótico correto para tratar minha infecção.
De Simão Pereira até a divisa com o Estado do Rio de Janeiro, foram praticamente 10km de uma deliciosa descida rumo ao rio Paraibuna e à cidadezinha de Mont Serrat. Na divisa, dois prédios históricos se destacam: o Casarão do Registro onde a coroa portuguesa fiscalizava os carregamentos vindos de Ouro Preto para o Rio de Janeiro e a Estação de Paraibuna construída em 1856 no estilo Francês, onde eram trocadas as mulas para continuar a viagem. Hoje o prédio abriga o Museu Rodoviário.


De lá até a simpática Paraíba do Sul, foram 18km de estrada rural com algumas subidas mas bem tranquilas e bonitas, onde cheguei ao meio dia. Hospedagem: Hotel Itaoca - 24 2263-1044. Um hotel antigo e com um aspecto bonito e ao mesmo tempo estranho, como se fosse mal-assombrado kkk. Acomodações bem simples mas funcionais. Recomendo para quem quer gastar pouco.

Dia 6 – 01 de junho de 2022

De Paraíba do Sul a Petrópolis
71,1km com 1.298m de elevação

Tudo o que eu desci no quinto dia tive que subir neste último dia. Pedalei praticamente só subindo (subidas leves) até um pouco mais da metade do percurso, 100% em asfalto.
Passei pela localidade de Rancho Queimado e pela cidadezinha de Inconfidência, onde fica o Museu de Tiradentes. Supostamente um braço dele foi exposto nesta localidade por ser ali onde ele mantinha uma amante, D. Mariana. Os ossos do braço foram encontrados junto com os dela no cemitério local e transportados para o Museu onde também estão outros objetos da época e obras sacras. O Museu estava fechado e não consegui visitar.
Segui passando por Pedro do Rio já na região de Petrópolis. Passei pelo Castelo de Itaipava e segui pela periferia feia de Petrópolis por um longo trecho urbano sem subidas. Neste trecho precisa estar atendo ao GPS uma vez que é um trecho urbano cheio de ruas e avenidas paralelas. Como sempre, usei o Wikiloc que é fundamental em todas as minhas cicloviagens. No final, já chegando ao centro mais uma longa subida e finalmente, por volta de 12h30 estava no belo centro histórico de Petrópolis, com seus casarões e solares.


Aluguei um quarto numa pousada apenas para tomar banho e descansar. Depois de um bom almoço e uma Heinicken gelada fui passear de bike no centro. Visitei a Casa de Santos Dumont e rodei em alguns pontos turísticos da cidade. Esta foi também a última jornada da minha sapatilha, companheira inseparável de tantas aventuras, mas já não tem mais condições de me acompanhar - já cumpriu muito bem sua função depois de tantos anos! Será substituída por uma nova! À noite embarquei para São Paulo concluindo a viagem. Hospedagem: Pousada ACE (21) 97155-2016 – preço baixo para a cidade, uma casa antiga mas reformada e adaptada para ser uma pousada, estilo airbnb. Tudo muito arrumado, novo e cuidado. Recomendo!